Dubbel e Quadrupel: como harmonizar e por que incluir esses estilos belgas na sua mesa

Você conhece os lúpulos neozelandeses Riwaka e Nelson Sauvin? Aposto que, se entrar num empório especializado agora, vai encontrar facilmente um monte de IPAs com um deles. Agora tenta procurar por estilos como Saison, Dubbel ou Quadrupel. O número já cai. Filtra pelas nacionais? Piora. Sem fruta ou envelhecimento em barril? Quase nada. Se é que sobrou algum rótulo... 😬

Sim, é baixa mesmo a oferta de cervejas de estilo belga em comparação com as IPAs. Nenhuma surpresa aí. Mas sabe o que tenho notado? A galera que ama explorar sabores está começando a dar sinais de saturação… de lúpulo.

Harmonizar é explorar

Em março, impulsionada pelas conversas com a minha comunidade de assinantes, criamos o Saisons que em Cena, que virou uma espécie de evento com conteúdos sobre o estilo, degustações em grupo e um convite a explorar essa cerveja à mesa. A ideia era provocar novos momentos na cozinha, memórias sensoriais gostosas. Afinal, cerveja e comida não se somam, se multiplicam! Esses convites criam oportunidades de elevar um prato com uma cerveja e vice-versa. De enxergar o cotidiano com um novo brilho e, claro… se divertir.

Parte da rotina de um sommelier é essa busca constante por perfis sensoriais e também por boas histórias. Curar cervejas que não só brilhem no copo, mas que também se conectem a momentos de prazer e experiências gastronômicas. Dá pra fazer isso com muitos estilos, mas as cervejas belgas, com sua riqueza sensorial e versatilidade, tornam tudo mais fácil (e mais saboroso), principalmente para quem está se aventurando nesse universo. E já que o friozinho chegou, por que não aproveitar pra criar momentos na cozinha que aqueçam e abracem… de forma ainda mais apertada?!

Dubbel e Quadrupel

Foi com essa vontade de estimular experiências mais profundas — com cervejas que pedem espaço no copo, no prato e na conversa — que convidei a Halve Maan, tradicionalíssima cervejaria belga de Bruges, para participar do Encontro Sensorial (uma degustação online que rolou dia 7 de julho) e também do segundo Desafio de Harmonização.

A proposta é jogar luz sobre estilos clássicos que carregam história, riqueza sensorial e um enorme potencial gastronômico, mas que seguem meio apagados no mercado brasileiro.

Neste mês, os protagonistas são justamente dois desses estilos que mereciam lugar cativo na prateleira da sua geladeira: Dubbel e Quadrupel. Cheias de camadas, essas cervejas entregam calor, conforto e uma versatilidade surpreendente à mesa. Uma chance de elevar o momento de explorar e se divertir.

O perfil sensorial de uma Dubbel ou Quad: malte, fermentação, calor e camadas

Ambos os estilos — Dubbel e Quad — são ricos em camadas sensoriais. Têm visual outonal, com tons de âmbar escuro a marrom, passando por nuances de rubi profundo. No gole (e no peito), um calor que conforta. Esse calor tem nome: teor alcoólico elevado. Nas Dubbels, a graduação gira entre 6% e 8%, nas Quads, vai de 9% até 12% ou mais. E esse álcool extra, além de aquecer, também traz textura macia.

A experiência aromática e gustativa é uma viagem por notas de malte: biscoito, tosta leve, caramelo, melaço, chocolate amargo... tudo atravessado por notas frutadas advindas da fermentação, que tem um perfil de fruta escura como ameixa e uva passa, figo em compota e bananada. Um quê de panetone ou bolo de banana com especiarias.

E por falar em especiarias: será que tem adição ou é só a levedura belga fazendo mágica? Difícil saber. Na Europa, nem tudo precisa estar no rótulo mas se tiver alguma adição, ela está muito bem integrada. Na última que tomei, ontem no Encontro Sensorial, a Quad da Straffe Hendrik, as notas de pimenta-do-reino preta, anis, noz-moscada estavam sutis e... deliciosas!

Apesar da doçura aparente, essas cervejas surpreendem no final: são mais secas do que parecem. Isso fica ainda mais evidente nos exemplares mais frescos, onde o amargor está mais presente e ajuda a equilibrar o conjunto, reduzindo a percepção de dulçor. As notas frutadas também entram no jogo, confundindo (deliciosamente) o cérebro: sentimos o aroma de frutas escuras e ele já espera o próximo passo, um gosto docinho na boca. Porém, o gole apresenta um ritmo diferente, mais seco na Dubbel, e à medida que o teor alcoólico aumenta, "decibéis" de doçura começam a se destacar mais.

Dubbel e Quad compartilham uma alma sensorial parecida, mas com intensidades diferentes. A Dubbel é o degrau inicial: rica, contida, mais acessível. A Quad é a versão musculosa, intensa, levemente mais adocicada e ainda mais "contemplativa".

Harmonização com Dubbel e Quad: caramelização, tosta e prazer

Se o copo já entrega caramelização, tosta e conforto, fica fácil elementos similares no prato: a crostinha da carne, os legumes assados com bordas tostadinhas, o fundinho da panela… tudo conversa com essas cervejas.

Na harmonização, buscar semelhanças de sabor entre o prato e a bebida é sempre uma jogada segura, tipo aquele “quebra-gelo” da paquera. A conversa flui mais fácil quando os dois lados têm algo em comum. E se tiverem vários assuntos? Melhor ainda. Mas a gente não precisa parar por aí: contrastes também funcionam. É como usar calça caqui com blusa preta... simples, mas que se complementam. Queijo e goiabada, por exemplo, não são iguais, mas têm química! O importante é manter o equilíbrio: tudo junto, na boca, tem que criar uma sensação gostosa, de preferencia sem nem a bebida nem a comida se passarem. Ficar "viajando" em sabor é um jeito fácil de estimular a mente e curtir o momento.

Carne vermelha? Sim. Chocolate? Também. Juntos? Talvez. Se você já comeu mole mexicano (com frango, chocolate, especiarias e pimenta), experimente com uma Dubbel. Confesso que nunca provei, mas foi uma das perguntas que caiu na minha prova de Certified Cicerone®. Eu fui virtualmente de Dubbel e minha nota foi 94!

Faz sentido, pensa comigo, as notas de malte e fermentação da cerveja têm muita similaridade com o sabor do prato e o prato tem bastantes elementos que trazem muito sabor, assim como a própria intensidade de uma Dubbel. As notas frutadas da cerveja emprestam ao prato um temperinho novo, o dulçor abraça e suaviza a pimenta. A carbonatação contribui como quem limpa o salão depois da festa e opa, mais uma garfada, outra festa! Na teoria faz muito sentido, quando provar eu te conto.

E carne de panela? Toda cultura tem a sua. A belga chama Carbonade Flamande e, adivinha só? É feita com cerveja, tenho dois vídeos testando essas receitas aqui e aqui. Como Dubbel e Quad não têm amargor elevado, a redução fica incrível. Só espero que você tenha mais de uma garrafa: uma vai pra panela, outra pro copo. E se sobrar pra sobremesa, melhor ainda.

Que tal uma costelinha marinada e cozida em uma das duas? Ou um belo bife com purê de abóbora e cenouras grelhadas? Será que dá pra reduzir o molho com a cerveja?

E sobremesa? Uma torta de chocolate amargo pede uma Quad. Um manjar de coco com calda de ameixa? Ah… chama uma Dubbel e uma Quad, vai ficar gostoso com as duas, mas é preciso equilibrar intensidades e testar as duas é uma “chatice” ótima de viver.

Queijo pode muito bem ser prato principal ou sobremesa. Queijos maturados, amanteigados e levemente adocicados, como um Gouda envelhecido, fazem bonito ao lado das notas de caramelo e frutas secas das cervejas. Já os mais intensos, como Roquefort, Gorgonzola ou Stilton, têm força pra encarar a robustez da Quad, criando aquele contraste salgado-doce que faz salivar. É fã de Brie? Experimente incluir mel, tâmaras, nozes e um gostoso pão de fermentação natural, esses toques elevam o sabor e equilibram a delicadeza cremosa do queijo com a complexidade da cerveja.

Como você já deve ter percebido, usei a lente do “frio” pra sugerir pratos mais aconchegantes, mas não se prenda a isso. A beleza da harmonização está na liberdade: dá pra brincar com temperaturas, texturas e sensações e essas cervejas também pode brilhar em outros contextos. Um jantar especial no verão, uma harmonização ousada com sobremesas tropicais... O importante é provar, testar e curtir o processo.

Se você estiver interessado em receitas ainda mais sofisticadas, dê uma olhada na página de receitas das cervejarias da Halve Maan, onde encontrará receitas detalhadas para harmonizar com Dubbel e Quad.

Desafio de Harmonização: ganhe R$500 em cervejas da Halve Maan

Pra quem precisa de um empurrãozinho pra marcar aquele rolê ou preparar um jantar romântico: está no ar o segundo Desafio de Harmonização! O premio? Um voucher de R$500 em produtos da Straffe Hendrik ou Brugse Zot, pra quem se jogar nessa jornada e registrar a melhor foto ou vídeo de um momento saboroso com Dubbel ou Quadrupel e o prato que acompanhou.

Critérios de pontuação:

1. Ser assinante: +1 ponto

2. Usar uma Dubbel ou Quad, se for da Straffe Hendrik ou Brugse Zot: +1 ponto

3. Fazer uma harmonização com queijo, prato ou sobremesa (tradicional, ousado, brasileiro, frio ou quente, vc escolhe!): +1 ponto

4. Foto ou vídeo com boa composição, iluminação e criatividade: +1 ponto

5. Descrever bem a experiência sensorial ou emocionar com o relato: +1 ponto

📌 Marque com a hashtag #DubbelQuadEmCena (e, se puder, me marque também ou envie por DM) para que eu possa achar a sua sugestão. A foto ou vídeo que emocionar (e pontuar) mais, leva o premio. O resultado sai em live no meu Instagram no dia 20 de agosto.

Espero que esse post incentive mais cervejarias a produzirem estilos gastronômicos como Dubbel e Quad. Se vc conhece alguma legal, compartilhe nos comentários. Ah... espero que vc tope o desafio e se anime a viver novos sabores, boas conversas e experiências deliciosas à mesa. 🍻

Até!

PS: Um abraço aos meus assinantes que estão sempre sugerindo estilos e me desafiando a encontrar cervejas de excelente qualidade aqui que se possa encontrar em todo Brasil!

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